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Por que a mente dá destaque ao negativo em nós?


Um erro no relatório brilhante. Um fracasso em meio a vários sucessos. A espinha no rosto, a mancha na camisa. Um deslize, um engano, um ato falho, uma imperfeição: por que a mente dá tanto destaque aos aspectos negativos em nós?

Era a segunda vez que eu dava palestra naquela empresa. O auditório estava lotado, com quase 200 presentes. Eu me sentia energizada, dei o meu melhor e recebi aplausos animados no final. Pessoas vieram me cumprimentar, fazer comentários e dar feedbacks positivos. Dias depois, recebi a avaliação do evento: 63,2% dos participantes haviam dado ótimo para a palestra; 36,2%, bom; 0,0% regular; e 0,6%, fraco.

Se fosse a avaliação de alguém, provavelmente eu diria: arrebentou! Mas era a do meu próprio trabalho, e aquela fatiazinha vermelha no gráfico pizza, representando o 0,6% de fraco, era tudo que importava. De minha mente brotou uma espiral de pensamentos de autojulgamento, dúvida, preocupação e negatividade. Como assim, fraco? Onde foi que eu errei? Por que será que acharam a palestra fraca? Achei que tinha ido tão bem! Agora a empresa não vai mais me contratar...

Entre aproximadamente 200 participantes, 0,6% representava uma única criatura, o bastante para a mente fazer um escândalo. Não importa o tamanho ou a representatividade de um aspecto negativo em relação a nós, para a mente isso tem o incrível poder de ofuscar todo o resto.

E não é? Se você tem cuidados com a pele do rosto e um dia acorda com uma espinha na bochecha, pronto, sua pele está péssima, todo mundo vai perceber aquela chaga na sua cara. Se zela por causar uma boa primeira impressão, aguentará até passar calor com o paletó abotoado, para esconder de um potencial cliente os pingos de shoyu que deixou cair na camisa durante o almoço.

Um erro no relatório brilhante. Um fracasso em meio a vários sucessos. A unha que lasca quando você está super produzida para a festa. Um deslize, um engano, um ato falho, uma imperfeição: por que a mente dá tanto destaque aos aspectos negativos em nós?

Para o cérebro, o "negativo" é uma ameaça em potencial

A princípio, isso acontece porque o cérebro é bastante perceptivo para tudo que se apresenta fora do padrão, errado, contrário às expectativas ou atípico. Quando se depara com algo assim, por mais sutil que seja, dirige o foco de atenção para lá e assume aquele aspecto como uma potencial ameaça, que então se destaca.

Aí entra em cena a mente com suas estratégias para evitar o sofrimento. Procura entender as causas, imagina as consequências para se prevenir, pensa em como minimizar os estragos e evitar que aconteça de novo etc e etc... Se joga numa espiral de julgamentos, elaborações e preocupações. De repente, somos aquele aspecto; nos identificamos tanto com ele que esquecemos de tudo o mais que somos.

Não merecemos isso, né?

Nessas horas, que conforto me dá ter uma atitude de compaixão para comigo mesma, lembrando que eu sou apenas um ser humano em busca de felicidade. Isso me ajuda a aceitar aquele aspecto negativo em mim. Aceito-o como parte da minha humanidade, sabendo que não representa tudo o que eu sou, e deixo ir os julgamentos e críticas. Se posso fazer algo com relação a aquilo, faço porque se trata de uma oportunidade para o meu crescimento; porque desejo e mereço estar bem, feliz, satisfeita comigo mesma.

E além do mais... Os erros e imperfeições que tanto consomem nossa mente muitas vezes passam batido para os outros. Eles talvez nem percebam a espinha na bochecha, nem achem um desastre os pingos e shoyu na camisa, nem sejam tão cruéis no julgamento dos nossos erros quanto nós mesmos somos. A propósito, a empresa que citei no começo deste artigo contratou minha palestra pela terceira vez :)

E você, como tem lidado com o negativo em si mesmo? Compartilhe sua experiência nos comentários.

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